quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Exposição de fotografia de José Luís Santos: “Um olhar sobre o pão”

O Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques - Ecomuseu da Serra da Lousã vai inaugurar no próximo Sábado, dia 20, pelas 16:30 a exposição de fotografia "Um olhar sobre o pão" de José Luís Santos. Estarão patentes ao público três dezenas de imagens que nos fazem recuar aos tempos mais antigos, onde se apanhavam os cereais dos campos cultivados e se amassava a broa com a força dos braços e dos pulsos antes de a deitar no velho forno de lenha. A par destas fotografias de carácter mais etnográfico, o autor captou a rotina de quem trabalha numa padaria na confecção do mesmo alimento. Nessa tarde, o Rancho Folclórico e Etnográfico de Vilarinho fará uma recriação de uma descamisada, fazendo, mais uma vez, um voltar a tempos já passados.
Convivemos diariamente com o pão desde os tempos da nossa mais remota memória. Estamos familiarizados com a sua presença mas muitas das vezes desconhecemos o seu percurso até chegar ao produto final, aquele que aparece na nossa mesa. Tudo começa na terra com a plantação dos cereais que mais tarde o sol da época quente do ano fará crescer e doirar para depois, já no Outono, serem apanhados. Em meados de Setembro, ou em Outubro, consoante a zona em que foi plantado, é altura de proceder à apanha do milho. Quem tem terras maiores, chama os familiares, vizinhos ou assalariados para darem uma ajuda numa tarefa que se poderá prolongar por alguns dias.

Depois de apanhado, descamisado e debulhado, o milho segue para a sua próxima etapa, a moagem, Na Lousã, ainda subsistem alguns moínhos que movem as suas pesadas pedras pela força da água. Um deles é, ou era em Cacilhas. Quem produz em casa o seu próprio pão ou broa deslocava-se ali semanalmente para adquirir os cereais moídos. Esta tarefa por vezes era penosa. Nestas lides, a água é quem mais ordena e a moleira encontrava-se das oscilações do caudal que a levada tinha.

Quem compra a farinha, leva-a para casa e junta-a na amassadura ao sal, ao fermento e ao crescente, o pedaço que restou da vez anterior. Depois de se arranjar uma panela de água quente, juntam-se os ingredientes na panela para misturar tudo de modo a criar a fórmula ancestral a que chamamos de massa. É uma tarefa árdua que exige muita força, algum suor e persistência nos gestos. A dada altura, depois de muitas investidas, sente-se que esta já se encontra em condições de prosseguir para o forno. Antes disso, há que benzer a massa para que a providência faça a sua parte e tudo saia à altura de um manjar dos deuses. Junto ao forno, a pá está à espera para a receber já com a forma arredondada que a tigela lhe dá. Durante uma hora, a matéria a que se chamava massa adquire o nome de broa. Neste espaço de tempo, ganhou consistência e um odor suave.

O lugar da padaria nesta história é indissociável. É daqui que saem todas as formas de pão e de broa que consumimos diariamente. É o trabalho noctívago dos padeiros que nos proporciona um dos prazeres da manhã. Aqui, a força humana é em boa parte trocada pela das máquinas.

A exposição estará patente até 25 de Fevereiro e contará com um conjunto de palestras referentes a esta temática com o programa a definir oportunamente.

Sem comentários: