No tempo da monarquia, os povos serranos recolhiam neve que era armazenada em poços na Serra da Lousã até ser transportada para Lisboa. A tradição vai ser recriada no dia 4 Fevereiro, numa iniciativa do programa Aldeias de Xisto, que convida todos a participar.
O programa Aldeias de Xisto vai recriar, no dia 4 de Fevereiro, todo o processo de recolha de neve e transporte de gelo dos neveiros (poços) da Serra da Lousã até Lisboa.Uma tarefa árdua que requeria arte e engenho para que, no Verão, os reis e sua corte pudessem saborear gelados ou bebidas frescas e conservar alimentos.
Todos os interessados são convidados a participar na iniciativa, que começa no dia 4 de Fevereiro, às 10h00, em Santo António da Neve (freguesia de Coentral, concelho de Castanheira de Pêra), com a preparação dos três neveiros existentes, e se estende até Junho.
Os participantes devem levar roupa confortável para sujar, muitos agasalhos, luvas, almoço, água, energia e boa disposição. Primeiro há que preparar os poços para que fiquem aptos para o armazenamento do gelo, tal como acontecia em tempos ancestrais.
Recorde-se que, por decreto real, sempre que nevava na serra, os homens, mulheres e crianças, eram obrigadas a deixar o que estavam a fazer para encher os poços.
Utilizando escadas, as pessoas desciam ao fundo dos neveiros e, com pesados maços de madeira, calcavam a neve, transformando-a em gelo. Já com o poço cheio, a neve era coberta com palha e fetos, de modo a conservá-la até ao Verão. Os poços, que têm edifícios de xisto a protegê-los, estavam orientados para nascente, para que o sol não derretesse a neve.
A segunda e última etapa da recriação desta tradição realiza-se no dia 17 de Junho, com o transporte do gelo até Lisboa, primeiro em carroças de bois até Constância e depois de barco pelas águas do Tejo.
Depois da chegada ao Terreiro do Paço, o gelo é entregue no café Martinho da Arcada, antigo Café da Neve, onde no período monárquico Julião Pereira de Castro (neveiro real) comercializava gelo em Lisboa.Os três poços existentes no Santo António da Neve, os únicos em todo o país, situam-se em plena Serra da Lousã, a mais de 1000 metros de altitude, tendo sido recuperados este ano pelas autarquias de Góis, Lousã e Castanheira de Pêra, no âmbito de um protocolo entre os três municípios, com a colaboração da Lousitânea - Liga de Amigos da Serra da Lousã.
No local existe uma capela dedicada a Santo António, mandada construir em 1786 por Julião Pereira de Castro, neveiro-mor da Casa Real. Os habitantes do Coentral (Castanheira de Pêra), a aldeia mais próxima, festejam o santo com uma romaria em Junho.
Também há mais de uma dezena de anos que a associação Caperarte e os jornais “A Comarca”, “Trevim” e “Mirante” promovem um encontro de povos serranos, que reúne pessoas vindas dos concelhos da Lousã, Miranda, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos, naquele que é o segundo ponto mais elevado da Serra da Lousã.
Os interessados em participar na iniciativa devem inscrever-se na Lousitânea - Liga de Amigos da Serra da Lousã, através do telefone/fax: 235778644.
Fonte: Diário de Coimbra
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