A voz é o principal instrumento da comunicação humana. A voz desenha e transmite conteúdos, cria relações entre sujeitos e pressupõe escuta e participação. A voz (a nossa e a dos outros) leva-nos para fora, liberta-nos do peso insuportável da repetição à qual de outra forma seriamos confinados. A voz é som, é símbolo de uma interioridade de outro modo inexprimível. A voz prepara o sentido do lugar onde a palavra se dirá.
A voz é uma força arquetípica, é uma imagem primordial dotada de um poderoso dinamismo criador. É o “lugar” onde a linguagem se articula, que vai além da voz, com toda a sua força existencial, materialidade e significado. “A voz é uma questão ainda não organizada, significante puro e livre que aponta, aludindo e acenando sem dizer. A voz diz-se no momento em que diz: é pura exigência. O grito inarticulado, o gemido puro, a vocalização sem palavras, o grito de guerra, são explosões do ser que se identifica com a sua própria voz: a voz é vontade de dizer e vontade de existir. “(Paul Zumthor)
Na região rural Portuguesa do maciço da Gralheira (concelho de S. Pedro do Sul), composta por comunidades de montanha em que agricultura e pastorícia de subsistência eram as actividades dominantes, locais onde a electricidade e consequentemente a televisão chegaram há apenas cerca de 25 anos, todo o conhecimento e comunicação tinha como meio a voz humana. Esse facto por si só é suficiente para conferir uma riqueza densa a todo o discurso oral… a idiossincrasia, o desconcertante, o subliminar, os sotaques, aspectos que vão sendo cada vez mais estandardizados.
Estas aldeias rurais do concelho de S. Pedro do Sul, integradas desde há pouco tempo numa rede de aldeias – “Aldeias de Magaio”, ainda hoje mantêm traços dessa oralidade que se manifesta em todos os aspectos da vida prática, mental e espiritual:
A voz que reza e confessa
A voz que canta o divino
A voz que transporta a lenda
A voz que chama os animais
A voz que canta o ciclo da terra
A voz que canta à desgarrada
A voz que apregoa a mercadoria
A voz que convoca a comunidade
A voz que denuncia a condição
A voz que mantém o sotaque
A voz que perpetua o vocabulário
A voz que ecoa na paisagem
A voz que subverte o cânone
A voz que leiloa em dia de festa
A voz que sobe de tom com o vinho
A voz que repete a ladainha
A voz que embala a criança
A voz que evoca a divindade ancestral
O Festival Vozes de Magaio propõe colocar em diálogo todas as formas de património oral rural e formas artísticas contemporâneas centradas na voz, que trabalhem aspectos como a origem, o significado, as relações do sagrado (reconduzido ao seu significado e simbolismo ancestral de mistério e símbolo), a voz como elemento na base de rituais, costumes e superstições, capaz de encantar o ouvinte e de trazer mudanças profundas no real, nas comunidades e no território, a voz como protagonista de memórias, mitos, arquétipos, sabedoria popular transmitida ao longo dos séculos, ou ainda a voz quotidiana, ferramenta de trabalho e vida.
O Festival Vozes de Magaio irá desenrolar-se em três períodos distintos ao longo do ano de 2011, Maio, Julho e Setembro/Outubro, terá a presença de dezenas de artistas internacionais e locais e proporcionará um vasto programa de actividades dirigidas a públicos variados: concertos, mostras de vídeos, actividades ambientais, actividades de descoberta do património oral e musical local, bailes tradicionais, gastronomia, venda de produtos da terra e artesanato, etc.
Programa
Sexta-Feira, 20 Maio
17h00: A Voz Que Ecoa na Paisagem
Isabel Silvestre e Vozes de Manhouce
Mata de Castanheiros de Macieira (Sul)
18h00 – 24h00: Canções Galaico-Portuguesas de Taberna
Com Ugia Pedreira, Uxía, Guadi Galego, Pedro Pascual.
Coordenação de aCentral Folque (Galiza)
18h00 - Restaurante Salva Almas, Macieira
19h30 – Restaurante Típico O Rochedo, Fujaco
21h00 – Associação Recreativa Cultural e Desportiva de Oliveira e Aveloso (inclui jantar com um custo de 10 Euros: marcações: 232 723 160 / ana@binauralmedia.org)
Sábado, 21 Maio
10h00: Memória Oral de uma Aldeia
Caminhada Interpretada pela Aldeia de Macieira
Organização: Casa Recreativa Macieirense
(Custo 10 Euros com almoço incluído / 5 Euros até aos 12 anos. Marcações: 232 723 160 / ana@binauralmedia.org)
12h30: A Voz dos Ingredientes
Almoço Tradicional
Palco da Casa Recreativa Macieirense, Macieira
14h30: 1ª Mostra de Vídeo Rural: A Voz Antropológica
Antiga Escola Primária do Fujaco
Filmes a exibir:
Joana Nascimento – “SimLugares” (2009, 15’)
Sofia Borges – “Aldeia do Lado” (2009, 40’)
Manuela Barile – “Rheia Zoontes” (2011, 10’)
Luigi di Gianni –“Magia Lucana” (1958, 18’)
Gianfranco Mingozzi – “La Taranta” (1962, 20’)
17h00: Apresentação de Criações Artísticas Internacionais “Magaio Voicescapes”
Sede da Associação Cultural e Recreativa do Fujaco (Antiga Escola Primária)
@C: Pedro Tudela e Miguel Carvalhais (Portugal) | Suzanne Barnard (Estados Unidos) | Pierre Gauvin (Canadá)
19h00: Vozes e Concertinas à Desgarrada
Largo da Antiga Escola Primária do Fujaco
20h00: A Voz dos Ingredientes
Jantar Tradicional
Restaurante Salva Almas, Macieira
22h00: A Voz do Corpo: Baile à Antiga
Orquestra Sons da Beira Alta
Casa Recreativa Macieirense
Domingo, 22 Maio
09h00: Abertura do Mercado das Aldeias
Frutícolas | Hortícolas | Enchidos | Doçaria | Artesanato | Animação Infantil
Largo Principal, Sul
09h30: Percurso Equestre Sonoro
Freguesia de Sul
Organização: Associação dos Produtores Florestais do S. Macário
(Custo de 10 Euros por pessoa, incluindo almoço tradicional em Sul)
10h30: A Voz que Reza e Confessa
Missa Dominical
Igreja Paroquial de Sul
12h30: A Voz dos Ingredientes
Almoço Tradicional
Casa do Povo de Sul
Organização: Rancho Folclórico da Freguesia de Sul e Associação Recreativa e Cultural dos Pesos de Sul
14h30: Feliz é o Povo que Canta e Dança
Grupo de Cantares de Candal (40 minutos)
Rancho Folclórico da Freguesia de Sul (20 minutos)
Rancho Folclórico Juvenil de Oliveira de Sul (20 minutos)
Rancho Folclórico dos Pesos de Sul (20 minutos)
Grupo de Concertinas de Lafões (1 hora)
Largo Principal, Sul
A partir das 15h00: Lanche Tradicional
Largo Principal, Sul
Organização: Rancho Folclórico dos Pesos do Sul
Organização
Binaural / Nodar e Associação Aldeias de Magaio
Financiamento
Ministério da Cultura - Direcção Geral das Artes | Fundação Calouste Gulbenkian
Parceiros
Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, aCentral Folque (Galiza), CLDS - São Pedro do Sul: O Futuro é Aqui, Pés na Terra, Cooperativa de Produtores Terras de S. Pedro do Sul, Casa Recreativa Macieirense, Restaurante Salva Almas, Associação de Produtores Florestais do S. Macário, Junta de Freguesia de Sul, Rancho Folclórico da Freguesia de Sul, Rancho Folclórico Juvenil de Oliveira de Sul, Rancho Folclórico dos Pesos de Sul, Associação Cultural e Recreativa do Fujaco, Restaurante Típico O Rochedo (Fujaco), Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Oliveira e Aveloso, Associação Recreativa e Cultural dos Pesos de Sul
Contactos
Associação Cultural de Nodar
Rua de Camões, Nº 6 – 1º Dto. Frente
3660-482 S. Pedro do Sul
Tel. 232 723 160
Email: info@binauralmedia.org
Fonte: Binaural | Nodar
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