Som e espaço formam um importante par no nosso ambiente quotidiano: Nenhum som existe fora do espaço, e nenhum espaço é realmente silencioso. Som e espaço reforçam-se mutuamente na nossa perceção, as qualidades de um espaço afectam a forma como percebemos o som e as de um som afectam a forma como percebemos um espaço. Resumindo, espaço e som são indissociáveis na nossa experiência do que é existir no mundo.
De igual modo, existem evidências claras da importância sonora de lugares sagrados ancestrais, os quais têm sido documentados por antropólogos. Os sons foram provavelmente uma parte importante de rituais, pela forma como afectavam o corpo humano e a função cerebral. Muitos dos lugares sagrados antigos foram construídos em pedra, as quais pelas suas qualidades geológicas ou pela sua disposição no espaço, geravam efeitos acústicos particulares de reverberação ou eco, estudados nomeadamente no domínio da arqueologia acústica.
É legítimo afirmar que o caso específico dos territórios rurais coloca em evidência a profunda ligação existente entre paisagem, arquitetura e som. Por um lado, a paisagem rural é em grande medida uma paisagem antropológica e arquitetónica, transformada por uma miríade de construções utilitárias, muitas delas centenárias: moinhos de água, azenhas, canais de rega, casas de habitação, eiras, poços, lavadouros, espigueiros, minas, muros de pedra, capelas, igrejas, coretos, ruas, becos, largos, etc. Por outro lado, grande parte das construções rurais implicam uma especificidade acústica, de tal forma que é possível reconhecer a tipologia arquitetónica a partir da escuta desses lugares.
O FESTIVAL SOM E ARQUITETURA RURAL irá precisamente explorar as interações entre paisagem, arquitetura e som no contexto rural do Maciço da Gralheira, concelho de S. Pedro do Sul. O festival irá acolher projectos artísticos que irão “ativar” acusticamente diferentes tipologias de construções rurais, através da criação de instalações e esculturas sonoras e media em contexto específico, em paralelo com projetos de arquitetura experimental e de trabalho de campo antropológico que irão compreender os aspectos identitários associados aos espaços construídos, identificar tipologias e refletir sobre usos potenciais da arquitetura tradicional da região, muita dela em estado de abandono.
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